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Tuesday, March 9, 2010

O Fantástico e Arrepiante Mundo de Alice




PUBLICADO NO JORNAL DO PINHAL NOVO, DE DIA 09-MARÇO-2010

DO OUTRO LADO DO ESPELHO
Tatiana Santos*


O fantástico e arrepiante mundo de Alice


Após a estreia do filme cuja história deu nome a esta coluna, não poderia falar senão de Alice (personagem), Burton (realizador) e Carroll (autor da história). Sempre o cinema serviu de tela de projecção para os nossos processos inconscientes. Identificamo-nos mais ou menos com a história, saimos do cinema a pensar nela, rimos, choramos, vivemos os dramas das personagens que, em muitos casos, são ou foram nossos também em algum momento do percurso. Por outro lado, dar ao espectador uma sequência de imagens, mais ou menos estruturadas, permite também que – de forma livre – ele possa analisar e interpretar a história, mostrando-nos muito sobre o seu próprio funcionamento psíquico. Ora, como podemos compreender, o cinema dá-nos “pano para mangas” no que toca ao estudo das suas origens, ao estudo do seu impacto e ao estudo do seu público (quer de forma colectiva, quer de forma individual através de estudos de caso).

Vários são os realizadores que motivam estudos mais aprofundados... os cenários, as histórias e enredos, a complexidade... tudo isto gera interesse do ponto de vista da investigação porque o cinema faz parte das nossas vidas, acompanhou mudanças geracionais e irá continuar até à extinção da humanidade. David Lynch, Cronemberg, Bergman, Almodovar estão nas listas dos mais cobiçados. Tim Burton também. Criador de ambientes fantásticos, pegou numa – senão na mais – perturbadora história infantil de sempre e transformou-a num caldeirão de loucura. Não nos deixemos enganar: nunca “Alice” foi uma história para crianças.

Alice é uma história de desequilíbrios, de ausência de limites, de personagens alucinadas e paranóides, de desafio de todos os valores. Começando na própria Alice, passando pelo Chapeleiro Louco, por um Coelho descompensado com o tempo, por uma descontrolada Rainha de Copas, pelo filosófico Gato Cheshire, por personagens que são ovos, morsas e acabando no consumo de drogas alucinogénicas que alteram a percepção corporal das personagens, a história de Carroll é uma caixinha de Pandora que pode “desarranjar” a mente mais corajosa. Alice é uma história fascinante que nos fala de um Universo paralelo. A única curiosidade é que esse universo não é exterior a cada um de nós. Fala de um mundo interno, rico e simbólico. Mostra-nos loucuras contidas através do tempo e que expostas numa tela podem provocar algum desconforto. No entanto, é uma história imortal. Quem não a conhecia, certamente não a irá esquecer. Sobretudo pintada pela mão de Burton.

*Psicóloga

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