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Thursday, May 6, 2010

Schizophrenia Treated Without Medication - Dr. Lucy Holmes

Dr. Lucy Holmes - President of the Society of Modern Psychoanalysts

Thursday, June 4, 2009

AS HORAS (análise Psicológica do filme)

NOTA: A análise deste filme é detalhada e inclui revelação do final do mesmo e esclarecimentos acerca das personagens. Não recomendado a quem não viu o filme e pretende o efeito surpresa.


Mors Liberatrix

"Na tua mão, sombrio cavaleiro,
Cavaleiro vestido de armas pretas,
Brilha uma espada feita de cometas,
Que rasga a escuridão, como um luzeiro.

Caminhas no teu curso aventureiro,
Todo envolto na noite que projectas...
Só o gládio de luz com fulvas betas
Emerge do sinistro nevoeiro.

- «Se esta espada que empunho é coruscante
(Responde o negro cavaleiro andante),
É porque esta é a espada da Verdade:
Firo mas salvo... Prostro e desbarato,

Mas consolo... Subverto, mas resgato...
E, sendo a Morte, sou a liberdade.»"


Antero de Quental


A HISTÓRIA


As primeiras imagens de «As Horas» são bruscas, angustiantes e dolorosas. Assim terá sido para quem foi retratado no filme. Assim o sentirão certamente todos os espectadores. Sofrimento, dor e uma carta de despedida. Virgínia Woolf suicida-se finalmente no rio Ouse, em Sussex, com 59 anos e após inúmeras tentativas falhadas.

1923: Virginia vive nos subúrbios de Londres. Revela presença de alucinações auditivas, humor deprimido, pessimismo, sentimento de vazio, desintegração, fatalismo, falta de apetite… para além disso sabe-se, ao longo do filme, que tem um historial de internamentos e tentativas de suicídio. Aquando do início do filme, prepara os manuscritos do seu romance «Mrs. Dalloway». Laura Brown é uma deprimida dona-de-casa em Los Angeles, lendo «Mrs. Dalloway» em 1959 e Clarissa Vaughn, uma editora de livros que vive actualmente na West 10th Street, em Greenwich Village.

Três mulheres, três facetas de uma personagem, três reflexos de Virgínia. Woolf (ela própria), Laura e Clarissa são, respectivamente, as três faces de «Mrs. Dalloway» - a que escreve, a que lê e a que vive a acção. Três pessoas que transportam encerrados em si mesmas os sintomas, frustrações e angústias de Virgínia Woolf.

A história de Clarissa é a peça-chave. Chamada de Mrs. Dalloway por um amigo e ex-amante Richard - um atormentado poeta homossexual, seropositivo em fase terminal que, mais tarde se percebe, ser filho da personagem Laura. Clarissa vive com Sally há 18 anos. A jovem Julia, filha de Clarissa é filha de «nada mais do que uma proveta numerada».

A insatisfação une as personagens. Virgínia, luta para sair de um local que a sufoca onde vive aprisionada dentro de casa e rodeada de médicos. Combina fases de depressão com episódios maníacos em que, simplesmente, coloca o chapéu e dirige-se à estação de comboios para regressar a Londres. Nessas alturas sente falta do movimento e energia da capital e não suporta a viver no campo.

Insatisfação de Laura que assumiu um papel que nunca fora o seu. Abandonou os sonhos para ficar em casa, ser esposa e mãe a tempo inteiro. Dia após dia esse pensamento a frustra. Também nela se encontram sintomas da fase mais depressiva de Virgínia. O isolamento, a lentificação, a tristeza permanente, a ideação suicida. No entanto Laura escolhe a vida e abdica do que a angústia: o marido e os filhos. Parte para o Canadá para começar de novo.

Insatisfação de Clarissa que fora trocada por um homem na relação que tinha com Richard. Insatisfação por se esconder atrás de uma máscara de sucesso e boa disposição, camuflando-se com festas e homenagens quando por dentro sofre a dor de estar a perder o amigo e o homem que ainda ama para a SIDA.

AS PERSONAGENS


A. Virgínia Woolf (Nicole Kidman)

Profissão: escritora

Estado civil: Casada

Sintomas clínicos:
Alucinações auditivas, humor deprimido, pessimismo, sentimento de vazio, fatalismo, falta de apetite, historial de internamentos, três tentativas de suicídio (uma concretizada), frustração e não identificação com a vida que leva, lentificação alternada com momentos de agitação e ansiedade.

Percurso:
Vivia em Londres, é casada. Devido às suas crises e internamentos é recomendado que se mude para o campo - Richmond. Sente-se aprisionada. Vê a prisão como o estar afastada da energia e movimento da capital, rodeada de médicos e isolada de todos. Vê-se confrontada com um silêncio aterrador.

Passa o tempo com os seus livros. Não tem estímulos exteriores que permitam uma fuga à sua doença. Ela e a sua sombra.

Diagnóstico: Doença Bipolar (Maníaco-Depressiva)

Virgínia vive numa dimensão intemporal, trilha o seu caminho existencial sem a percepção futura do fim. A morte constitui-se como uma possibilidade, um afluente que permite a fuga ao terrível jugo das horas.

No filme «As Horas», a vida interna de Virgínia traduz-se também no espaço. A inércia, o silêncio e a quietude bucólica de Richmond que reflecte o pólo depressivo de Virgínia e a azafama electrizante de Londres, o seu pólo maníaco. Virginal no seu pólo maníaco não suporta o contraste que existe em Richmond, sente-a como uma prisão da qual procura uma fuga imediata.

Por outro lado poderemos especular que a energia londrina, seria vivenciada de outra forma por Virgínia quando o pólo depressivo se instala. A fuga e a retracção surgem como formas projectivas de evitamento. Foge-se do espaço, na impossibilidade de fugir de si mesmo. O espaço de aprisionamento de Virgínia aparece em diversas camadas. Virgínia está encarcerada na infinitude de Richmond, em sua casa e no seu próprio corpo.


B. Laura (McGrath) Brown (interpretada por Julian Moore)

Profissão: doméstica

Estado civil: Casada (com um filho, grávida de uma menina)

Sintomas clínicos:
Humor deprimido, pessimismo, sentimento de vazio e incompletude, ambivalência afectiva, hipersómnia, lentificação psicomotora e cognitiva, ideação suicida grave com plano, já apresentava um padrão de isolamento e introversão na adolescência

Percurso:
Casa com um retornado de guerra e adopta uma vida caseira e familiar com a qual não se identifica minimamente. Torna-se dona-de-casa, mãe e esposa e isso angustia-a. Vê na sua vizinha (Kitty) aquilo que ambicionava para a sua vida.

Há uma incapacidade de mudança, um sentimento de fatalismo e vazio para o qual a morte é a única saída. Pensa suicidar-se mas opta por viver. Para que isso aconteça tem de abdicar do que a faz sofrer: a família. Abandona os filhos e parte para o Canadá.

Frase:
«Que significado tem o arrependimento não existindo alternativa?» (Laura Brown)

Representa: a insatisfação, frustração, fatalismo e ausência de soluções de Virgínia Woolf – mors liberatrix

Identificação com Virginia: «A minha vida foi-me roubada. Vivo uma vida que não me apetece viver. Luto sozinha na escuridão... na treva absoluta» (Virgínia Woolf)


C. Richard Brown (interpretado por Ed Harris)

Filho abandonado de Laura Brown

Profissão: poeta, escritor


Estado civil: solteiro (homossexual sem relacionamento estável)

Sintomas clínicos:
Doente terminal de SIDA, alucinações auditivas e visuais, alterações físicas provocadas pela doença, labilidade afectiva, ideação suicida subjacente ao estado terminal em que se encontra.

Percurso:
É abandonado pela mãe. Tem um relacionamento breve mas significativo com Clarissa Vaughn. Deixa-a por Louis mas mantém com ela uma relação muito próxima de amizade e cumplicidade. Evita o contacto com a mãe. O seu abandono marcou-o muito. O pai morreu de cancro, bem como a irmã mais nova. Tornou-se um poeta e escritor conceituado e premiado no entanto, na fase final, rejeita o reconhecimento e os prémios. Vive através dos seus livros o abandono da mãe que nunca foi um contentor das suas angústias e os sentimentos de morte constantes.

Representa: a incompreensão, o sentimento de abandono e desespero face a uma doença que não tem solução – ser para a morte.

Identificação com Virginia: «Alguém tem de morrer para que possamos valorizar mais a vida. Morre o poeta, o visionário» (Virgínia Woolf)

Richard cresce na ausência de segurança e afecto por parte da mãe. Não há envolvimento. Laura Brown mantém sempre o seu «bicharoco» a uma distância suficiente, que lhe permita não entrar no seu espaço [de Richard].

Quando é abandonado na casa da ama, Richard fantasia o regresso da mãe construindo uma casa e acabando, finalmente, por a destruir. Rejeita a mãe que o rejeitou.
Com o nascimento de sua irmã, Richard é abandonado por Laura Brown e vê o seu pai e a sua irmã morrerem de cancro.

É em Clarissa que Richard encontra os cuidados maternos, ausentes na sua infância. Clarissa sofre uma metamorfose no breve envolvimento que teve com Richard. Torna-se «Mrs Dalloway», a mãe que lhe presta cuidados e amor incondicional.


D. Clarissa Vaughn (interpretada por Meryl Streep)

Amiga, confidente, ex-namorada e «mãe» de Richard

Profissão: redactora numa revista


Estado civil:
união de facto (lésbica, vive com Sally há 10 anos, tem uma filha por inseminação artificial - Julia)

Sintomas clínicos:
Ansiedade, traços de neuroticismo, perturbação da personalidade dependente, instabilidade afectiva

Percurso:
Manteve sempre contacto próximo com Richard e tomou conta dele em todos os momentos. A sua própria vida era organizada em função da agenda de Richard. Clarissa usa e abusa da racionalização para conseguir encaixar tudo na sua vida rigorosa e justificada. Para não sentir, para não viver… no entanto, acaba por ser confrontada com os seus sentimentos.

Nos últimos anos de vida do poeta, Clarissa tratou-o como a «mãe» que ele nunca tivera. Richard chamava-lhe «Mrs. Dalloway» (livro de cabeceira de sua mãe, Laura Brown). Clarissa constantemente organizava festas que Richard dizia serem para «calar o silêncio».

Clarissa fica aprisionada na doença de Richard, fica sua refém. A representação da mãe de Richard é tão má que seria quase insuportável para Clarissa abandonar Richard também, por isso acaba por abdicar da sua vida e viver em função dele.

Frase: «Sinto-me a desfazer » (Clarissa Vaughn)

Representa: conflito interno/externo: independência vs. dependência, organização externa vs. desorganização interna.


Identificação com Virginia:
«Achas que um dia consigo escapar?» (Virgínia Woolf)

Análise feita em parceria com o Dr. Gonçalo Aires de Oliveira (Psicólogo, Investigador Científico na área da Psiconeuroendocrinologia)

Friday, May 29, 2009

FIGHT CLUB (análise Psicológica do filme)

NOTA: A análise deste filme é detalhada e inclui revelação do final do mesmo e esclarecimentos acerca das personagens. Não recomendado a quem não viu o filme e pretende o efeito surpresa.


Ficha técnica
Ano: 1999
Realizador: David Fincher
Produtor: Cean Chaffin; Art Linson e Ross Bell
Argumento: Jim Uhls
Baseado no romance de Chuck Palahniuk

«Eu sou os suores frios do Jack»
«Eu sou a vingança do Jack»
«Eu sou a vida desperdiçada do Jack»
«Eu sou o inflamado sentido de rejeição do Jack»
«Eu sou o coração despedaçado do Jack»


Estas frases definem, só por si, todo o rumo do filme – uma espiral descendente de decadência e rotura com o mundo. FIGHT CLUB é um filme bastante violento sobre esquizofrenia. No entanto, apenas no final do filme é que o espectador se apercebe da doença do personagem principal.

A definição de esquizofrenia pode ser aplicada a esta separação que ocorre no narrador do filme – Jack (Edward Norton). Esta fragmentação, leva-o a criar Tyler Durden (Brad Pitt), uma personagem que encarna as suas pulsões do Id.

Desde o início do filme é possível registar alguns comportamentos e frases que remetem para o surgimento de Tyler. Por exemplo, quando Jack visita o médico acerca da sua insónia que se arrasta há seis meses. Nessa altura, Jack pede que lhe prescreva medicação com medo de morrer de insónias. «Mas eu estou em sofrimento» - diz. Ao que o médico responde, muito ao jeito de Tyler: «se queres saber o que é dor, vai ao grupo de apoio de cancro testicular... isso sim, é dor». O conceito de Tyler Durden surge assim que o médico pronuncia as palavras «isso sim, é dor».
Mas é apenas quando Jack se encontra no avião – para uma viagem de trabalho – que Tyler surge realmente numa cena com diálogo. Antes da chegada de Tyler, a monotonia da vida de Jack é transmitida quando o espectador o vê a catalogar os aeroportos por onde passa, quando está a trabalhar. «Acordas em O’Hare, acordas em Dallas (...) será possível acordar como alguém diferente?» - diz o narrador Jack.

O NASCIMENTO DE TYLER DURDEN



A desilusão e frustração de Jack é revelada à medida que ele imagina um terrível despenhamento ou choque entre aviões, porque o seguro paga a dobrar quando a morte acontece em trabalho. Esse acidente não é mais do que a raiva interior de Jack. Para além disso simboliza todas as alterações que se estão a dar a nível psicológico e que vão mudar radicalmente a sua vida. É o colapsar do Jack.

É então que Tyler Durden é criado. Surge sentado ao lado de Jack assim que ele «acorda» do seu acidente imaginário. Neste momento, o espectador é levado a crer que Tyler é um ser humano real. Pode então conhecer-se a sua actividade profissional e alguns detalhes a seu respeito. Tyler fabrica e vende barras de sabão. Sabão este que, ao longo de todo o filme, vai assumir uma função extremamente simbólica e relevante para o rumo da história.

Se, por um lado, o sabão se prende com o «lavar», «apagar» o materialismo – exactamente o que Tyler prega durante toda e viagem e todo o filme acerca dos malefícios do consumismo – por outro, o facto de Tyler roubar gordura humana a centros de liposucção para fabricar as barras de sabão que vende a $20 cada, remete para o extremo oposto. Há um dualismo nesta figura: sabão que nos leva quer para o anti-materialismo, quer para o materialismo na sua forma mais pura.

Inicialmente o narrador sente-se fascinado por Tyler – pela sua força, estilo, carisma, determinação. Tyler é tudo aquilo que Jack nunca conseguiu ser. Quando Jack perde o apartamento numa explosão (que mais tarde se verifica ter sido provocada pelo próprio), fica desalojado e passa a viver com Tyler numa casa semi-destruída, em eminente colapso. Esta casa é a última rejeição de materialismo por parte de Jack. Separado dum mundo de consumo, o narrador começa a sua descida ao inferno, a um mundo de caos.

Jack, empregado numa companhia de seguros, sofre de tédio e insónias. O seu único escape é frequentar grupos de apoio a tuberculosos, doentes de Lúpus e cancro testicular... ao contrário dos frequentadores destes grupos, Jack não sofre de uma doença fatal ou de algum tipo esquisito de parasitismo sanguíneo. Jack é o próprio parasita que se torna dependente do sofrimento dos outros. Os seus bens materiais são tão insuficientes que só assistindo à dor dos outros consegue chorar e assim dormir como um bebé. Porém, rapidamente os grupos de apoio deixam de ser suficientes. A figura de Tyler serve para preencher essa lacuna – Tyler é o que Jack sempre sonhou ser.

AUTO-AGRESSÃO, VIOLÊNCIA AUTO-INFLINGIDA



Tyler insiste na filosofia de que experienciar a dor é um modo de alcançar a libertação. Assim, Jack inicia uma actividade auto-destrutiva como meio de melhorar a sua existência entediante e banal – nasce o FIGHT CLUB.

As tendências destrutivas do narrador são evidentes, sobretudo quando Tyler queima a mão de Jack (com um beijo e Potassa). Quando o espectador se apercebe que Tyler e Jack são a mesma pessoa, essa cena atinge uma dimensão muito profunda e densa devido à percepção da auto-mutilação que se pretende recriar no filme. O beijo, que significa amor, assume aqui o papel de destruidor. Não há limites para Jack. O que era deixou de ser. Os conceitos alteram-se neste novo e complexo mundo que Jack descobriu.

Jack percebe que ele e Tyler se assumem-se como uma e a mesma pessoa quando se começa a verificar incongruências e quando deixa de se identificar com as acções que tanto valorizava. Ao perceber que tudo está a tomar proporções alarmantes – sobretudo o projecto Destruição – vidas passam a estar em jogo e Jack tem de, rapidamente, ganhar o controlo da situação destruindo Tyler Durden.

O último acto de violência auto-inflingida é a tentativa de suicídio de Jack. Agora o controlo é seu... a arma de Tyler está na sua mão porque Tyler e ele são um só.