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Monday, December 21, 2009

Jogo Patológico ou “Arriscar o último Florim”


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EROS & THANATOS
Jogo Patológico ou “Arriscar o último Florim”
Por Tatiana A. Santos
PALMELA

O que é real é que o jogador patológico não pára e a sensação de triunfo aparente é assombrada pelo sofrimento da família, pelo isolamento social, pela degradação humana. É importante compreender a dinâmica do jogo e as estruturas conducentes a este tipo de comportamento patológico.

“Experimenta-se uma sensação especial quando, sozinho, num país estrangeiro, longe da pátria, dos amigos, não sabendo o que se vai comer nesse mesmo dia, se arrisca o último florim, o último, o último!”

Fiódor Dostoiévski In O Jogador

Fala-se muito acerca da toxicodependência. Criam-se associações, institutos estatais, celebram-se protocolos e fazem-se debates. No entanto, a toxicodependência subsiste e outras formas de adição resistem sob uma máscara de pseudo-aceitação social – como a Ludopatia (termo mais usado em Espanha) ou Jogo Patológico. Apenas quando os custos e consequências familiares, laborais, legais e sociais se sobrepõem a tudo é que a questão emerge e ascende ao conhecimento “público”.

Este impulso do jogo, do arriscar, está presente em todos nós, desde o condutor que estaciona ilegalmente, ao especulador da bolsa que arrisca grandes fortunas. No entanto, estes são os modos respeitáveis de apostar. Os Egípcios, por exemplo, registavam em murais referências aos jogos “atep” (entre duas pessoas mediados por um árbitro). Lendas da Mesopotâmia falam também de apostas de jogo entre os deuses e os Romanos, por sua vez, apostavam nos dados, corridas de carros (bigas e quadrigas), jogos de luta e foram pioneiros na criação de lotarias usadas para reunir fundos públicos.

Cronologicamente, o jogo faz parte do desenvolvimento humano desde os jogos centrados nos sentidos e movimento, jogos de grupo, construção, etc. Com o passar dos anos, a tendência dos jogos de rua passou para o interior da casa, sobretudo na adolescência. Em Portugal não existem dados concretos sobre a prevalência destes comportamentos. Contudo, na vizinha Espanha, por exemplo, os dados indicam que quase meio milhão de espanhóis com mais de 18 anos, são jogadores patológicos.

Várias são as teorias e explicações. Fala-se de preencher o vazio (e esse vazio pode ser preenchido através de compras, jogo, álcool, etc.), fala-se de perturbação Borderline da Personalidade, de Masoquismo e Perversão, etc. O que é real é que o jogador patológico não pára e a sensação de triunfo aparente é assombrada pelo sofrimento da família, pelo isolamento social, pela degradação humana. É importante compreender a dinâmica do jogo e as estruturas conducentes a este tipo de comportamento patológico. Distinguir um simples jogo de um comportamento compulsivo e patológico é extremamente relevante para que o apontar do dedo não seja feito de forma leviana e para que programas de intervenção sejam mais adequados ao problema. Importante também não esquecer que o jogo patológico é uma problema transversal que afecta a vida familiar, profissional, escolar, social, económica e legal do jogador e da rede que o circunda.

Para quem prefere começar por um grupo de ajuda mútua, em Portugal existe já este grupos especificamente adequado ao problema do jogo patológico - Associação de Jogadores Anónimos - com alguns núcleos espalhados pelo País. Neste momento, a informação disponível dá conta de encontros específicos de auto-ajuda em Carcavelos, no Porto e na Parede (http://www.janonimos.org/).

Tatiana A. Santos
Psicóloga Clínica
Doutoranda em Psicanálise
Tlf: 936783972 / Email: tatiana.a.santos@clix.pt

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