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Tuesday, November 17, 2009

O Início do Fim


Crónica Publicada no JORNAL DO PINHAL NOVO
COLUNA: DO OUTRO LADO DO ESPELHO
17-Nov-2009

A propósito da recente morte que abalou o mundo do futebol – o do jovem Robert Enke, de 32 anos – quase tão mediático como o do não menos jovem e conhecido actor Heath Leadger, hoje o tema do “Outro Lado do Espelho” é esse assunto difuso e assustador que se prende com o facto de se poder colocar termo à vida. Quando esta é a única opção, a morte não termina apenas um ciclo mas é também uma forma desesperada de comunicar uma dor profunda. Robert Enke era um jovem adulto que tinha recém perdido a sua filha de dois anos. Enfrentou uma depressão profunda que escondia dos meios de comunicação social, temendo prejudicar a sua carreira. Como Enke, encontram-se muitas outras pessoas.

Assinalarei nesta crónica, o suicídio que decorre na fase correspondente à adolescência já que, depois dos acidentes de viação, o suicídio é a segunda causa de mortalidade entre os jovens. Cerca de 1000 jovens entre os 15 e os 24 anos morrem todos os anos por suicídio. A tentativa de suicídio é verdadeiramente o tipo de gesto que assume múltiplas estratégias e intenções. Acontece muitas vezes num clima de impulsividade e representa, evidentemente, um virar da agressividade contra si. Constitui um ataque contra o corpo e tudo o que ele representa, mas é também uma forma de provocar a reacção dos outros. Além disso, levanta o problema da depressão e das ideias de morte cuja frequência, nesta época da vida, se conhece bem.

Mas o que poderá levar um jovem a cometer um acto como o suicídio? Várias situações podem estar na origem deste problema. Desde o desespero de abandono em que uma separação é sentida como uma queda num abismo de morte, à ruminação obsessiva em que o comportamento suicidário representa uma forma de dizer que nada nem ninguém estará a altura de entender e ajudar quem se tenta suicidar. Passando por um modo de destruir a dor, induzindo uma dor mais aguda (mas contida) que absorva toda a vida interior, todos os afectos e que é suportada por sintomas diversos, como a anorexia nervosa - acabando por ser um “suicídio” em câmara lenta. Até à tentativa de destruição das pessoas que foram abandónicas numa espécie de “imolação pela vingança”, em que a morte surge da expectativa de introduzir na sua mãe, no seu pai, no/a companheiro/a, os remorsos persecutórios que os mortifiquem de culpa e os matem, por dentro, devagar.

Devemos estar atentos aos sinais e sintomas. A ajuda deve ser imediata e o acompanhamento poderá prevenir o “início do fim”.

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