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Monday, June 1, 2009

O Jogo Patológico Como Forma de Perversão



“Experimenta-se uma sensação especial
quando, sozinho, num país estrangeiro,
longe da pátria, dos amigos, não sabendo
o que se vai comer nesse mesmo dia,
se arrisca o último florim, o último, o último!”

Fiódor Dostoiévski In O Jogador

Existem várias características, enunciadas por vários autores, que apontam para que o jogo patológico possa ser percebido como uma forma de masoquismo perverso, logo, uma forma de perversão. Tal como um outro perverso, também o jogador patológico substitui as relações interpessoais por relações deste género. Como se estruturam então estas relações? Segundo Richards (2003) o perverso escolhe um cenário ou elege um objecto, apresenta comportamento compulsivo, prazer na descarga agressiva e, após a obtenção da grandeza, ansiada e idealizada, surge a culpa e a vergonha pelo ataque. Todas estas fases se percebem num jogador patológico. Bem como a relação com um objecto “fetiche”, muitas vezes usado como amuleto em situação de jogo.

Payne (1939) fala da relação da pessoa com o seu “fetiche” e refere que é a mesma que se estabelece com os seus objectos internalizados ou imagos parentais. O “fetiche” é assim usado como forma de protecção do “bom” objecto contra o ataque que ao mesmo tempo o poderá destruir. Eiguer (1999) no seu livro “Pequeno tratado das perversões morais”, dedica um capítulo ao jogador. Segundo o autor, este faz lembrar o adicto – alguém que arrisca a própria vida para obter uma emoção intensa. Eiguer (1999) defende que jogando se põem em cena os tormentos, poupando o jogador de sentir a dor que daí advém. Tratando Deus como igual, o jogador desafia assim as leis da Natureza (Eiguer, 1999).

Já Lacan em 1966 (citado por Eiguer, 1999) decompunha a palavra “pervers” como “per” (père) e “vers”. Ou seja, em direcção ao pai. O jogador é assim, de alguma forma, o interlocutor de um pai simbólico. Nesta forma de perversão, existem dois pólos. Por um lado o triunfo e a omnipotência que podem ser vistos como uma recusa da castração. Por outro, a perda, o declínio que remetem o jogador para os seus próprios limites (Eiguer, 1999, p: 112).

Referências Bibliográficas:

Eiguer, A. (1999) Pequeno tratado das perversões morais. Lisboa: Climepsi.

Payne, S. (1939) Some observations on the Ego development of the fetishist. International Journal of Psychoanalysis, 20, 161-171.

Richards, A. K. (2003) A fresh look at perversion. Journal of the American Psychoanalytic Association, 51 (4), 1199-1218.

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