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Monday, June 1, 2009

A Psicologia do Xadrez



“O Xadrez é tortura mental”
Gary Kasparov

Segundo Reider (1959) nenhum tipo de jogo fornece à psicanálise, tantas oportunidades de investigação e estudo com o Xadrez. Para o autor, trata-se de um jogo que, em si, devido à sua estrutura, cristaliza questões ligadas ao romance familiar, está cheio de simbolismo e pode ainda oferecer, de algum modo, a gratificação ou a sublimação das pulsões. Neste tipo de jogo, diz Reider (1959), existem aqueles que se impressionam com a sua beleza e os que se encantam pelos elementos libidinais mas se sentem, ao mesmo tempo, perturbados pela sua destructividade ao aperceberem-se que a agressão é o núcleo deste jogo. O aspecto fulcral do jogo aborda a supermacia do Homem numa situação de agressividade sublimada. Ainda segundo Reider (1959) o Xadrez é um jogo militar que fornece organização, controlo e regulação num contraste entre a magia e a razão. Jones (1931) desenvolveu a sua teoria acerca deste jogo através da análise feita ao génio americano Paul Morphy. Para o autor, o Xadrez trata-se assim – e neste caso específico – de um jogo que representa a morte e o ataque ao pai (Jones, 1931).

A suportar esta ideia está a teoria de Freud (citado por Herbstman, 1925) relativamente às figuras reais no Xadrez. Nos sonhos e literatura infantil, os pais assumem figuras reais enquanto casal. O Xadrez poderia ser, então, uma elaboração de diversas tentativas de resolução da situação edipiana (Freud, citado por Herbstman, 1925). Fine (1956a), conhecendo por dentro a dinâmica do Xadrez como jogador da modalidade, abdicou da mesma para se dedicar à Psicanálise. De acordo com o autor, que analisou e estudou o funcionamento e vida dos grandes mestres do Xadrez, Boris Spassk, por exemplo, poderá ser visto como o “não-herói” mostrando flexibilidade e bons resultados noutras áreas que não o Xadrez. Boris cresceu durante o cerco a Leninegrado, foi abandonado pelo pai ainda novo e criado pela mãe mas não antes de ter passado uns anos num orfanato. Fine (1956a) considerou-o tendencialmente como uma personalidade depressiva. Por outro lado, Bobby Fisher é figurado como o “herói”. Também foi abandonado pelo pai e criado pela mãe que, curiosamente, se chamava Regina (rainha). Segundo Fine (1956a), Fisher dedicou toda a sua vida ao Xadrez, ao contrário de Spassk. Diz o autor, que Fisher jogaria para satisfazer as suas fantasias de omnipotência.

O Xadrez, para Fine (1956b), trata-se então de uma competição entre dois homens que roça os conflitos relativos à agressão, homossexualidade, masturbação e narcisismo. Estes temas tornam-se particularmente proeminentes nas fases anal-fálica. Pode entender-se como um meio de trabalhar a rivalidade pai-filho (Fine, 1956b). Como figura central existe o Rei – peça que marca todo o jogo e que chega mesmo a dar-lhe nome (Shah = Rei em Persa). É importante, insubstituível mas, ao mesmo tempo, fraco e necessita de protecção. O Rei pode, segundo Fine (1956b), representar várias coisas. O pénis do rapaz na fase fálica e remeter, desse modo, para a ansiedade de castração da altura. Pode estar relacionado com a auto-imagem – questão apelativa para aqueles que se consideram indispensáveis, importantes e insubstituíveis – constituindo um modo de resolver conflitos associados ao narcisismo. Crucial também o facto da figura do Rei poder ser entendida como uma forma de redução do poder paterno à condição e dimensão do filho. Um modo do rapaz dizer ao pai que ali o seu poder está reduzido e também ele é fraco e precisa de apoio. No fundo, o tabuleiro de Xadrez representa para Fine (1956b) toda a complexidade da dinâmica familiar. Os peões podem ser vistos como crianças. Rapazes jovens que nunca se tornarão reis e este elemento marca o aspecto destrutivo da rivalidade. A Rainha, por sua vez, retrata obviamente a figura da mulher, neste caso a mãe. De destacar a sua importância fulcral no ataque ao Rei (pai).

Referências Bibliográficas:

Fine, R. (1956a) Psychoanalytic observation on chess and chess masters. Psychoanalysis, 4, 7-77.

Fine, R. (1956b) The psychology of the chess player. New York: Dover Pub.

Herbstman, A. (1925) Psychoanalysis of chess. Moscow: Contemporary Problems Press.

Jones, E. (1931) The Problem of Paul Morphy: A Contribution to the Psychoanalysis of Chess International Journal Psychoanalysis, 12, 1-23.

Reider, N. (1959) Chess, Oedipus, and the Mater Dolorosa. International Journal of Psycho-Analysis, 40, 320-334.

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