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Thursday, May 28, 2009

O corpo e a mulher na história da humanidade



«Através de toda a história, as pessoas saíram:
desnorteadas, na tentativa de decifrar o enigma
da natureza da feminilidade
» - Freud (1989)

Eva foi o primeiro modelo feminino da história. Vista como sedutora e desobediente, é considerada por muitos responsável pela existência de morte no Mundo. No entanto, esta imagem é compensada com a da Virgem Maria –um exemplo a seguir, mãe de Cristo e concebida sem pecado. No outro extremo está Maria Madalena, a mulher arrependida (http://www.jatai.ufg.br/ped/4simposio/textcomp/03.html). Saltando um pouco no tempo percebemos que a religião, cultura e ciência eram exclusivas dos homens. A mulher deveria ser guardada para a procriação. Ao mesmo tempo que se atribuía à mulher esta tarefa, esta sociedade via com algum receio a sua relação com a menstruação, nudismo e sexualidade. O sexo foi assim convertido em pecado. O corpo feminino condenado ao pudor. Contudo, já existiam estereótipos quando ao corpo da mulher - mais redondo para seguir o seu curso de procriadora (Muraro, 1997). A revolução industrial e a II Grande Guerra o papel da mulher alterou-se. Surgiu o trabalho assalariado, o direito à educação e as mulheres começaram a usar a sua imagem nas reivindicações que faziam (http://www.jatai.ufg.br/ped/4simposio/text comp/03.html). Ao longo dos tempos várias têm sido as ideias sobre o papel do corpo, o que significa, o seu valor moral e o valor das suas partes constituintes. Para Chasseguet-Smirgel (2005) a representação psíquica do corpo tem sofrido muitas metamorfoses. Estas ideias têm diferido ao longo das épocas e de pessoa para pessoa (Synnott, 1993). Os gregos, por exemplo, glorificavam o corpo. Na antiga Grécia escultores, pintores e artesão celebravam o nu através de magníficas obras de arte que se perpetuaram no tempo. Tratava-se de uma cultura centrada no corpo. Contudo, as correntes variavam consoante as escolas. Já no império Romano o estoicismo era a filosofia dominante. Falava-se das batalhas entre corpo e alma e da superioridade desta última face ao físico (Synnott, 1993).

Os cristãos distinguiam o corpo físico, espiritual e moral. «O verbo foi feito carne» (João 1:14). A divindade tornou-se Homem, humanizada na sua representação. Já no Renascimento o corpo foi redescoberto. Botticelli, Da Vinci, Michelangelo, Raphael e Titiano pintaram-no como extremo da beleza (Synnott, 1993). Filósofos como Castiglione definiram a beleza como sagrada e Descartes (1596-1650) introduziu o discurso do método defendendo que o corpo seria um mecanismo comparado a um relógio que funcionaria mesmo sem a influência da alma (Synnott, 1993). A era vitoriana foi importante na medida em que acreditava que as mulheres eram governadas pelos seus corpos instáveis e fracos. Cérebro e útero competiam por energia. O útero era então o órgão que controlava a mulher neste período da história (Thorne, & Murray, 2000)

Douglas (1978) fez uma importante distinção. Definiu corpo natural e corpo social. Cada corpo, segundo a autora, é uma entidade física mas também uma representação – um meio de expressão controlado e restringido pelo sistema social. Estes dois corpos constituem-se em diferentes territórios de experiência. Eles espelham o físico no social e fazem-no ser vivido em termos sociais. Contudo, em todas as áreas, etnias e tempos, no início da vida a criança tem de integrar o seu corpo (Ego corporal) com o seu Ego psíquico. Tem de se formar essa percepção de unicidade. Porém, não é um processo fácil e por isso talvez as questões corporais sejam sempre polémicas. O corpo, para o bebé, é «extraterrestre». Por isso este reage com espanto e fascínio aos seus dedos, mãos e pés (Chasseguet-Smirgel, 2005).

Referências Bibliográficas

Chasseguet-Smirgel, J. (2005) The body as mirror of the world. UK: Free Association Books.

Douglas, M. (1978). Natural symbols. New York: Praeger.

Muraro, R. M. (1997) A mulher no terceiro milênio: uma história da mulher através dos tempos e suas perspectivas para o futuro. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos.

Synnot, A. (1993) The body social. Symbolism, self and society. London: Routledge.

Thorne, S. & Murray, C. (2000) Social constructions of breast cancer. Health care for women international, 21(3), pp. 141-159.

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