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Friday, May 29, 2009

FIGHT CLUB (análise Psicológica do filme)

NOTA: A análise deste filme é detalhada e inclui revelação do final do mesmo e esclarecimentos acerca das personagens. Não recomendado a quem não viu o filme e pretende o efeito surpresa.


Ficha técnica
Ano: 1999
Realizador: David Fincher
Produtor: Cean Chaffin; Art Linson e Ross Bell
Argumento: Jim Uhls
Baseado no romance de Chuck Palahniuk

«Eu sou os suores frios do Jack»
«Eu sou a vingança do Jack»
«Eu sou a vida desperdiçada do Jack»
«Eu sou o inflamado sentido de rejeição do Jack»
«Eu sou o coração despedaçado do Jack»


Estas frases definem, só por si, todo o rumo do filme – uma espiral descendente de decadência e rotura com o mundo. FIGHT CLUB é um filme bastante violento sobre esquizofrenia. No entanto, apenas no final do filme é que o espectador se apercebe da doença do personagem principal.

A definição de esquizofrenia pode ser aplicada a esta separação que ocorre no narrador do filme – Jack (Edward Norton). Esta fragmentação, leva-o a criar Tyler Durden (Brad Pitt), uma personagem que encarna as suas pulsões do Id.

Desde o início do filme é possível registar alguns comportamentos e frases que remetem para o surgimento de Tyler. Por exemplo, quando Jack visita o médico acerca da sua insónia que se arrasta há seis meses. Nessa altura, Jack pede que lhe prescreva medicação com medo de morrer de insónias. «Mas eu estou em sofrimento» - diz. Ao que o médico responde, muito ao jeito de Tyler: «se queres saber o que é dor, vai ao grupo de apoio de cancro testicular... isso sim, é dor». O conceito de Tyler Durden surge assim que o médico pronuncia as palavras «isso sim, é dor».
Mas é apenas quando Jack se encontra no avião – para uma viagem de trabalho – que Tyler surge realmente numa cena com diálogo. Antes da chegada de Tyler, a monotonia da vida de Jack é transmitida quando o espectador o vê a catalogar os aeroportos por onde passa, quando está a trabalhar. «Acordas em O’Hare, acordas em Dallas (...) será possível acordar como alguém diferente?» - diz o narrador Jack.

O NASCIMENTO DE TYLER DURDEN



A desilusão e frustração de Jack é revelada à medida que ele imagina um terrível despenhamento ou choque entre aviões, porque o seguro paga a dobrar quando a morte acontece em trabalho. Esse acidente não é mais do que a raiva interior de Jack. Para além disso simboliza todas as alterações que se estão a dar a nível psicológico e que vão mudar radicalmente a sua vida. É o colapsar do Jack.

É então que Tyler Durden é criado. Surge sentado ao lado de Jack assim que ele «acorda» do seu acidente imaginário. Neste momento, o espectador é levado a crer que Tyler é um ser humano real. Pode então conhecer-se a sua actividade profissional e alguns detalhes a seu respeito. Tyler fabrica e vende barras de sabão. Sabão este que, ao longo de todo o filme, vai assumir uma função extremamente simbólica e relevante para o rumo da história.

Se, por um lado, o sabão se prende com o «lavar», «apagar» o materialismo – exactamente o que Tyler prega durante toda e viagem e todo o filme acerca dos malefícios do consumismo – por outro, o facto de Tyler roubar gordura humana a centros de liposucção para fabricar as barras de sabão que vende a $20 cada, remete para o extremo oposto. Há um dualismo nesta figura: sabão que nos leva quer para o anti-materialismo, quer para o materialismo na sua forma mais pura.

Inicialmente o narrador sente-se fascinado por Tyler – pela sua força, estilo, carisma, determinação. Tyler é tudo aquilo que Jack nunca conseguiu ser. Quando Jack perde o apartamento numa explosão (que mais tarde se verifica ter sido provocada pelo próprio), fica desalojado e passa a viver com Tyler numa casa semi-destruída, em eminente colapso. Esta casa é a última rejeição de materialismo por parte de Jack. Separado dum mundo de consumo, o narrador começa a sua descida ao inferno, a um mundo de caos.

Jack, empregado numa companhia de seguros, sofre de tédio e insónias. O seu único escape é frequentar grupos de apoio a tuberculosos, doentes de Lúpus e cancro testicular... ao contrário dos frequentadores destes grupos, Jack não sofre de uma doença fatal ou de algum tipo esquisito de parasitismo sanguíneo. Jack é o próprio parasita que se torna dependente do sofrimento dos outros. Os seus bens materiais são tão insuficientes que só assistindo à dor dos outros consegue chorar e assim dormir como um bebé. Porém, rapidamente os grupos de apoio deixam de ser suficientes. A figura de Tyler serve para preencher essa lacuna – Tyler é o que Jack sempre sonhou ser.

AUTO-AGRESSÃO, VIOLÊNCIA AUTO-INFLINGIDA



Tyler insiste na filosofia de que experienciar a dor é um modo de alcançar a libertação. Assim, Jack inicia uma actividade auto-destrutiva como meio de melhorar a sua existência entediante e banal – nasce o FIGHT CLUB.

As tendências destrutivas do narrador são evidentes, sobretudo quando Tyler queima a mão de Jack (com um beijo e Potassa). Quando o espectador se apercebe que Tyler e Jack são a mesma pessoa, essa cena atinge uma dimensão muito profunda e densa devido à percepção da auto-mutilação que se pretende recriar no filme. O beijo, que significa amor, assume aqui o papel de destruidor. Não há limites para Jack. O que era deixou de ser. Os conceitos alteram-se neste novo e complexo mundo que Jack descobriu.

Jack percebe que ele e Tyler se assumem-se como uma e a mesma pessoa quando se começa a verificar incongruências e quando deixa de se identificar com as acções que tanto valorizava. Ao perceber que tudo está a tomar proporções alarmantes – sobretudo o projecto Destruição – vidas passam a estar em jogo e Jack tem de, rapidamente, ganhar o controlo da situação destruindo Tyler Durden.

O último acto de violência auto-inflingida é a tentativa de suicídio de Jack. Agora o controlo é seu... a arma de Tyler está na sua mão porque Tyler e ele são um só.

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